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  • Writer's pictureCristalwolf Lobazul

O que é Teriantropia (Therianthropy)

Updated: Jun 25

Este é um assunto delicado, pensei muito antes de escrever sobre isso. E a conclusão que cheguei é que é algo que PRECISA ser falado, entendido e debatido. Sendo assim, decidi que postarei textos periodicamente falando abertamente sobre este assunto tão escondido e tão precioso que é a Teriantropia ( ou Therianthropy). Antes de mais nada, vamos dar nome aos bois.

Um therianthrope (ou therian) é alguém que se identifica como um animal. Em palavras bem chulas “ é alguém que nasceu na espécie errada”. Uma pessoa que nasceu num corpo humano mas que na verdade é um animal por dentro. Alguns acreditam que isso se deve à reencarnação ou almas mal colocadas, enquanto outros acreditam que são casos de cunho psicológico ou uma anormalidade em sua fiação neurológica.


Recentimente encontrei o termo "disforia de espécie" e embora não seja atualmente reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, “disforia de espécie” é um termo abrangente, aplicado a um distúrbio no qual os indivíduos acreditam ter nascido no corpo da espécie errada.


Existem muitas teorias sobre por que as identidades não-humanas ocorrem.


Seja como for, pessoas therians já nascem assim. Acredito que o termo teriantropia e seus conceitos tenham demorado a aparecer pelo fato de não ser fácil para alguém se assumir therian, ainda mais numa sociedade onde as pessoas são tão intolerantes com coisas muito menores. Falo por experiência própria.


Quando me assumi therian perante família, amigos e trabalho houve rejeição, piadas de mau gosto, coisas que destruíram um pouco da minha integridade. Também não é pra menos, a sociedade não consegue em pleno século 21 aceitar cores de pele, etnias e sexualidades diferentes que dirá do resto? É por isso que acredito que muitos therians preferem ocultar o que são ou mesmo sufocar o que são ao invés de passar por todas estas situações. Mas pessoal, isso não é saudável. Isso quase me matou.


Desde meu primeiro sopro de consciência (lá pelos meus 2 anos de idade) eu já tinha certeza de que não pertencia a esta espécie. Lembro que meus primeiros impulsos foram olhar para meu corpo e ficar extremamente chateado ao não encontrar meu rabo, minhas patas, meus pêlos, lembro que fiquei desesperado e que meu primeiro pensamento após isso foi “Eu quero morrer.”


Para uma criança que mal começou a vida ter este tipo de pensamento, pode ter certeza que tinha algo muito errado comigo. Nos próximos anos busquei a resposta para isso, mas as palavras dos adultos eram muito duras. “Isso é só coisa da sua cabeça.” Sendo assim, guardei todos estes sentimentos para mim, sufocando-os.


Você quer saber que sentimentos eram esses? Pois bem, uma criança therian não é como as outras. Crianças therians têm atitudes animalescas, elas rosnam, mordem, correm usando as mãos como patas, bebem água com a língua, preferem carnes e ovos crus, andam na ponta dos pés, entre outras coisas… Claro que isso não é regra, mas é o que geralmente acontece. E tudo isso vira piada aos olhos dos pais, amigos, parentes, conhecidos, etc…


Parece engraçado? Uma criança que está passando por esta série de conflitos, parece engraçado para você? Pois não é. É cruel. E cada dia que passava as pessoas demonstravam menos tolerância para estes comportamentos.


Pois bem, chega a adolescência. Onde tudo só piora e fica mais intenso. Onde novamente você tenta conversar com as pessoas, e novamente elas levam na zoação. Mais uma vez você se fecha. Esta foi a fase em que tentei me matar de verdade. Minha primeira tentativa de suicídio falhou, estava tudo pronto, mas na hora H eu não tive coragem. Ao invés disso, criei o hábito de me flagelar. Ver o sangue escorrer pela minha pele me trazia alívio quase que imediato, mas por pouco tempo. Não era uma solução, era apenas uma válvula de escape.


Eu usei a arte para trabalhar essa minha enorme dor. O que funcionou muito bem e por anos eu quase me esqueci dela. Eu me casei, saí da casa dos meus parentes abusivos, e me afundei num relacionamento ainda mais abusivo, me afundei tão profundamente que cheguei a esquecer quem eu realmente era.


Minha dor existencial estava muito bem escondida ao ponto de me fazer acreditar que ela não existia. Eu me portava como um humano comum. Uma esposa Amélia. Daquelas que são o sonho de qualquer machista. E a cada passo que eu dava na direção contrária de quem eu realmente era, mais doente meu corpo físico ficava. E falo doente mesmo.


Toda semana eu estava com algum problema de saúde, de uma simples gripe, à gastrite e trombose entre tantos outros. Foi assim por anos. Enquanto eu morava com meus parentes, isso acontecia muito também mas em menor escala, com o passar dos anos as coisas só foram piorando. Novas tentativas de suicídio, novas flagelações, novas doenças, e eu empurrando-me cada vez mais para dentro.


Eu achava que era doente mental. Cheguei a ir em psicólogos e psiquiatras. Tomar remédios. Até que um belo dia, conversando com alguns amigos na comunidade Furry, conheci o termo Therianthropy e passei a estudar sobre. Eu finalmente entendi que existiam outras pessoas no mundo que passavam pela mesma coisa que eu. Que eram como eu. Fui atrás dessas pessoas, conversei, entendi, me libertei.


Eu não era doente. Mas estava me matando negar minha verdadeira natureza. Então resolvi assumir o que eu era para o mundo e aos poucos as coisas foram acontecendo. Me divorciei. Saí do trabalho que tanto me fazia mal. Me distanciei das pessoas tóxicas. Me casei novamente, mas desta vez, com a pessoa certa. E desde então nunca mais fiquei doente. É válido lembrar que isso não foi de um dia para o outro. Foram quase 2 anos de desintoxicação e autodescoberta.


Além de tudo isso, encontrei minha religiosidade dentro do xamanismo totêmico e do asatruar. O que me ajudou ainda mais a entender minha condição e minha posição no mundo. É importante ressaltar que não é por você ser therian que você precisa necessariamente ter uma religião, mas este foi o caminho que decidi seguir e foi muito bom pra mim.


Onde quero chegar com esse textão? Bom, existem ainda muitos therians por aí que estão passando pelas mesmas coisas que passei ou pior. Eu quero escrever mais sobre este assunto para ajudar estas pessoas, pelo menos dar uma luz, pelo menos dizer “Ei! Você não está sozinho, eu entendo sua dor!”

Então este é o primeiro dos diversos textos sobre Teriantropia que vou escrever. Um abração de loba para vocês!



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